As crises nos fazem lembrar que, às vezes, mudar é mais que só uma opção

Parece haver um consenso entre especialistas das mais variadas áreas sobre o momento em que vivemos e de como o mundo jamais será o mesmo. A pandemia do coronavírus fez com que nos adaptássemos a uma nova realidade de convivência social. No brasil, já com pouco mais de 1 mês do primeiro caso, boa parte da população e dos governantes – com exceção do nosso líder negacionista – entendeu que o isolamento social é a medida, disponível, mais eficaz contra a propagação da infecção que vem pondo fim a inúmeras vidas pelo mundo.
A crise de saúde desencadeou uma série de outras crises que, como uma caixa de anzóis, trouxe a tona a fragilidade de nossa estrutura social: organização da vida em sociedade (questões básicas: de saneamento básico às moradias irregulares), relações trabalhistas (demitir ou não?, o que fazer com os autônomos?, ou como ficam os vínculos dos trabalhadores que têm como patrões as megacorporações da tecnologia da informação) e as nossas relações sociais que, até pouco tempo, vinham recebendo críticas pelos excessos nas redes sociais – estas últimas, até o momento, as grandes “heroínas” no combate ao isolamento e abandono.
Em se tratando de relações virtuais, tudo o que se pode dizer ainda é muito incipiente. Estamos, apenas, há duas décadas lidando com esta realidade e pouco se sabe sobre os efeitos dos smartphones em nossas vidas – embora já se tenha ideia de que o uso excessivo cause danos. No meio psi também há inúmeras discussões sobre como se deve usar a tecnologia a favor do tratamento dos pacientes. Perguntas, ainda sem respostas, são feitas nas supervisões, grupos de estudo e congressos sobre as sessões de psicoterapia realizadas através do vídeo (Skype, whats e correlatos) e se são tão efetivas quanto as presenciais.
Como disse no artigo “Psicoterapia e o corpo na Pandemia” , tenho como política de trabalho restringir os atendimentos por vídeo apenas a alguns casos excepcionais. O momento em que vivemos me fez flexibilizar esta premissa e passar a atender todos os meus pacientes na modalidade on line. As crises nos fazem lembrar que, às vezes, mudar é mais que só uma opção. Se não houvesse a adaptação, além de ter de interromper o tratamento dos meus pacientes (alguns casos graves), perderia minha fonte de sustento. Estamos constantemente sendo provocados pelo destino a aceitarmos os desafios que nos são impostos. Tais desafios nos colocam diante de nossas crenças e nos forçam a encontrarmos saídas onde só víamos “portas fechadas”. Darwin já nos alertou sobre a força não ser a melhor das virtudes no que diz respeito à evolução das espécies. A capacidade de adaptação, sim.
Concordo com os que dizem que o mundo não será mais o mesmo. Precisaremos repensar nossa forma de existir neste planeta. Há uma série de perguntas a serem respondidas sobre nossos novos desafios. Crenças vêm sendo diluídas e um mundo de possibilidades (e potencialidades) vem surgindo em nosso horizonte. A tecnologia pode ser uma alternativa para uma série de questões não resolvidas do nosso “antigo mundo”. No momento, é através dela que pude manter o tratamento de meus pacientes. Ainda não sei responder se haverá ou não perdas nesta modalidade de atendimento, mas, sem dúvidas, há novas dinâmicas sendo apresentadas nesta nova configuração da relação terapeuta/paciente e que contribuirão no caminho trilhado pelos que decidem se aventurar pelo universo da mente.
Nota: muitos são os profissionais que vêm oferecendo atendimento on line neste momento. Alguns pontos que julgo importantes e que vêm contribuindo no meu trabalho. Divido como sugestões:
Para paciente e psicoterapeuta:
– Se ambos têm uma boa conexão de internet;
– Estabelecer a mesma dinâmica da relação do atendimento presencial (assim como o paciente chega ao consultório, este também “chega” na sessão on line: paciente liga para o terapeuta);
Para psicoterapeuta:
– Preserve o sigilo de seu paciente: atenda com fone e em lugar reservado;
Para paciente:
– Caso inicie o seu tratamento na modalidade virtual, certifique-se de que o terapeuta tem registro no CRP
– Encontre um lugar com TOTAL privacidade para ter sua sessão.
– Se estiver em casa, com a família, certifique-se de que não será interrompido durante a sessão.