A importância da entrevista inicial em psicoterapia

Início de terapia
Basta uma rápida pesquisa para percebermos as centenas de artigos sobre a importância da entrevista inicial em psicoterapia. Isto não é surpreendente, uma vez que os primeiros contatos com o paciente são de suma importância para o entendimento da demanda e, consequentemente, os desdobramentos de um futuro trabalho terapêutico. O que quase sempre é pouco discutido é a importância deste primeiro contato pela perspectiva do paciente. Como o sujeito, que busca ajuda de um psicoterapeuta, enxerga estes primeiros encontros? De que forma podemos avaliar a importância da ida a um consultório de psicologia a fim de se ter respostas para as dores da “alma”?
Em um mundo repleto de avanços tecnológicos, os encontros físicos têm ficado cada vez mais em segundo plano. Obviamente, não podemos e nem devemos descartar os ganhos que a internet nos proporciona ao encurtar distâncias, possibilitar encontros e oferecer soluções para questões que dependiam integralmente da presença física: neste sentido, a possibilidade de realização de uma chamada de vídeo desburocratizou as relações e otimizou nossas vidas.
A tecnologia também chegou aos consultórios de psicologia. Pessoas que moram em outros países e necessitam de um psicoterapeuta (ter um terapeuta fluente em seu idioma é fundamental), hoje podem contar com as sessões por vídeo. Em nossas grandes cidades, tomadas pelo trânsito caótico, os atendimentos virtuais também se tornaram uma saída para os que necessitam de apoio psicoterapêutico. Não há dúvida de que a tecnologia chegou e continuará fazendo parte de nossas vidas.
Dentro do consultório, tais peculiaridades da vida moderna já são percebidas – e não me refiro aqui aos atendimentos on line (embora também realize atendimentos por vídeo). Chamo a atenção para a dinâmica dos atendimentos presenciais. Nota-se que a comunicação pelos Smartphones acaba se tornando uma proteção para os medos que a imersão em uma análise pode causar. Quando uma pessoa busca ajuda de um psicólogo, ela tem uma necessidade real – pautada por seu sintoma que também é real. Observo que o contato digital e os signos do mundo tecnológico distanciam o aspirante à análise de um confronto com aquele que representará uma ação propositiva para a resolução de suas questões. Neste sentido, a comunicação tecnológica passa a ser uma possibilidade de “adiamento” de uma frustração que o encontro com o psicoterapeuta representará. Assim, o encontro físico se tornará difícil por uma série de questões, como por exemplo a distância do consultório, o valor da sessão e, principalmente, se haverá uma certa “química” entre analista e analisando – sendo este último de suma importância para o andamento do tratamento
É na entrevista inicial que decidimos se o analista “dará” conta de receber nossa carga de sofrimento. É no contato através do encontro físico que o sujeito poderá saber se estará disposto a investir tempo, emoções e dinheiro para se tornar conhecedor de suas dores e decidir se conseguirá fazer algo com aquilo que assumirá forma e terá nome durante as sessões. Por isso, nós analistas, damos valor ao primeiro encontro. É nele que será construída a sólida ponte da confiança que tornará possível o caminho em direção aos “porões da alma” do analisando”. Freud, em inúmeros textos, compara a posição do analista ao encontro amoroso. Assim como a internet pode camuflar (leia-se exaltar) as características de um pretendente, também o fará no contato com seu futuro analista. Neste sentido, reitero a importância do primeiro contato terapêutico, pois assim como em um encontro romântico, precisamos saber se as expectativas criadas no mundo virtual se confirmarão no mundo real. Nada pode enganar o corpo.
Tiago Pontes é psicólogo clínico e social. Atende em consultório particular na região da Vila Clementino, São Paulo, e em São Caetano do Sul. Gerencia a página suco de cerebelo que aborda temas como psicologia, psicanálise, filosofia, literatura, artes e comportamento.
Tiago Pontes
Psicólogo
CRP 06/123352
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