Sobre as falsas promessas de cura

O oficio de psicoterapeuta compreende uma série de particularidades que são próprias da profissão. Todo profissional, pelo menos os que são devidamente preparados para desempenhar tal ofício, passa por uma verdadeira maratona de pesquisas, supervisões, congressos e outros meios para a aquisição do conhecimento.
Uma das principais ferramentas de um psicoterapeuta é a sua habilidade de ouvir. Aqui vale uma observação crucial para designar o termo. Muitas pessoas creem que ouvir é um ato simples e sem grandes complexidades. Realmente. O ato de ouvir, desde que você não tenha nenhum déficit fisiológico, é uma tarefa simples, entretanto o tipo de escuta que me refiro requer um preparo adequado.
Este tipo de escuta prepara o terapeuta para um momento importante no processo de análise: a interpretação do que é evidenciado nas sessões. Aqui, no sensível momento entre o que é escutado e o que é interpretado, é que fica evidente a diferença entre a escuta que ocorre no dia a dia e a técnica, presente no consultório. O terapeuta, humano que é, pode se sentir seduzido em ocupar a posição soberana de detentor de um saber onipotente e “entregar” ao paciente uma resposta para o seu problema. Ocorrendo isso, a relação paciente/terapeuta cairá no mesmo nível de uma relação ordinária e comum do dia a dia. O paciente enxergará no terapeuta a figura de um “oráculo”, cuja missão maior é livra-lo de seu sofrimento.
Símbolo de nossos “tempos modernos”, a rapidez das relações marca o compasso de tudo o que fazemos. Motivados pela demanda crescente de uma sociedade inteira sedenta por “remédios de ação rápida”, há uma série de profissionais que tentam usufruir do desespero de quem sofre e, sem grandes preocupações, se dizem detentores de verdades absolutas. Curioso e sintomático nisso tudo: tais profissionais também utilizam da mesma rapidez para adquirirem conhecimentos acerca da natureza humana. Se dizem mestres em “reprogramar” o pensamento ou doutores em “reorganização (sic!) do DNA”. Todos os grandes pensadores que contribuíram para o conhecimento sobre a mente humana levaram décadas para concluírem que… ainda havia muito para descobrir sobre a natureza humana.
Em tempos de hipervelocidade, vale o cuidado para não cairmos em verdadeiros contos da carochinha. Se o que queremos é um conselho, uma dica rápida e fórmulas mágicas para os nossos problemas, creio que seja melhor um bom papo com nossos amigos, afinal não gastaremos dinheiro e ainda teremos o prazer de desfrutar de um momento de diversão. Se percebermos que isto não é o suficiente para que nossas vidas sejam menos pesadas, que o que sentimos é digno de atenção e cuidados, devemos buscar ajuda profissional, mas de alguém que não teve pressa em aprender sobre a alma humana, pois isso não se aprende rapidamente.
Tiago Pontes é psicólogo e atende em consultório particular na região da Vila Clementino, São Paulo, e em São Caetano do Sul. Gerencia a página suco de cerebelo que aborda temas como psicologia, psicanálise, filosofia, literatura, artes e comportamento.
Tiago Pontes
Psicólogo
CRP 06/123352
Siga no instagram: @tiagopontes_psicologo
Curta : Suco de cerebelo
Outros textos como este no site: psicologotiagopontes.com.br