Muito se fala sobre liderar, mas pouco se diz sobre ser liderado

Nunca houve tantos especialistas em liderança como em nossa época. Talvez esta afirmação possa parecer um pouco leviana ou precipitada, pois não dá para fazer uma varredura em toda história e certificar de que isto é realmente verdade, mas posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que este é um período recheado de gurus do “seja-você-um-campeão- lifestyle”. É crescente o número de palestrantes que enchem os espaços das empresas, teatros e outros auditórios prometendo informar à atenta plateia os segredos da liderança. Mas a grande questão é: será que realmente existe uma fórmula para ser um bom líder? Vou mais longe: qualquer um pode liderar? Minha análise é que NÃO! Antes que eu possa ser julgado como pessimista, gostaria de fazer uma análise sobre o mercado de palestrantes.

Para esta análise, temos de entender como o mercado funciona. Como não sou um especialista neste assunto, quero, de antemão, me desculpar por qualquer análise que possa parecer superficial. Uma coisa tenho absoluta certeza – pois aprendi estudando um pouco sobre conceitos básicos de economia: algo só é vendido quando há compradores dispostos a pagar por este produto. Pois bem. O mercado de gurus está aquecidíssimo. Neste sentido, temos, cada vez mais pensadores, palestrantes, filósofos, coachings, entre outros especialistas que estão vendendo um produto no mercado das esperanças. Estes são astutos vendedores que encontraram um grande nicho de mercado: pessoas sedentas por fórmulas mágicas que possam resolver todos os nossos problemas. Ou seja, há uma oferta, há uma demanda e um mercado a todo vapor. A seguir, sinto-me mais à vontade para falar sobre o próximo assunto, pois este é do interesse de minha profissão.

Como dito anteriormente, o mercado de palestras está aquecido. Mas por que há essa demanda tão grande sobre liderança? Vivemos em uma época em que todos querem respostas. Ok! Mas só nesta época, nós, humanos, queremos respostas? E antes, não queríamos? Em nenhum momento nos contentamos em não sabermos das coisas, mas a contemporaneidade é marcada por um desejo histérico e insaciável pela busca por sentido. Outra característica marcante em nossa época é a busca por respostas sempre no outro. Buscamos saídas em terceiros, pois não nos julgamos capazes de encontrarmos as nossas epifanias em nós mesmos. “Só médico pode nos curar. Só psicólogo sabe o que podemos fazer. Só o personal sabe como devo me exercitar”. Entregamos aos especialistas a responsabilidade de nossas mais íntimas decisões – e achamos que esta é a saída.

Mas o que isso tem a ver com este crescente número de conversas, palestras e cursos sobre liderança? Chegamos ao ponto crucial. Somos uma geração sedenta por respostas que só o outro tem e também somos uma geração de TIRANOS. Sim, tiranos, pois acreditamos que viemos ao mundo para chefiar. Nos contaram uma história linda, em que cada um de nós poderia ser presidente da república, astro de futebol, da música ou grande em qualquer outro segmento. Não importa onde, como ou com o que trabalho, mas sei que serei GRANDE. Mas não nos contaram que vivemos em um mundo superlotado e que se cada um de nós quiser ser realmente presidente da república, certamente teremos todos os outros que não o serão. Para isso não fomos preparados – ou não nos prepararam. Mas, então, o que faremos agora que sabemos que nascemos para chefiar, mas ainda não chefiamos? Nos perguntamos “O que faço de errado para ainda não ser o novo CEO de uma gigante e inovadora start up?” Busco os gurus da liderança. Estes, sem dúvida, poderão tirar de mim aquele diamante bruto que minha mãe, desde muito cedo, disse que tenho e que só está aguardando as condições certas para que possa se tornar uma linda joia… Triste ilusão. Assim, cada vez mais estes palestrantes vêm faturando com nossas ilusões e anseios, prometendo que, em pouco tempo, sairemos do ostracismo e chegaremos no lugar que realmente é nosso: o topo.

Devemos nos preocupar com este cenário. Temos de ter em mente que, antes de mais nada, o mundo é feito pelos mais variados perfis. Além dos líderes, temos os liderados. Estes últimos, boa parte da população – diria que 90% dela. Devemos, então, aceitar com resignação o papel secundário na vida? Aqui, esboço uma alternativa. Penso que devemos olhar de uma maneira diferente para o que entendemos sobre liderança. Acredito que todos nós podemos ser líderes, mas penso que sua forma mais eficaz chama-se auto liderança. Ora, aquele que se enxerga como líder de si está muito bem consigo e não preocupado se tem ou não em quem mandar. O verdadeiro líder não tem esta preocupação, pois ele sabe que, independentemente de onde ele estiver, ele terá o domínio da situação através do exercício do auto controle. Ter autocontrole, hoje em dia, em uma sociedade que cada vez menos é tolerante à frustração, formada por indivíduos que se julgam pouco valorizados por ainda não terem uma posição de destaque na sociedade, te deixa alguns passos à frente na acirrada concorrência de nosso atual mercado de trabalho. Mas não só no mercado que você sairá na frente. Sairá na vida, pois terá muito mais paz de espirito e conseguirá enxergar com muito mais clareza o que você realmente quer. Então, pronto para ser líder de si mesmo?

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Tiago Pontes é Psicólogo formado pela Universidade Metodista de São Paulo, despertou o interesse pela Psicologia após descobrir a filosofia. Em seus questionamentos existenciais, deparou-se com autores como Freud, Nietzsche, Schopenhauer, Lacan, Heidegger, entre outros que o levaram a busca pelo entendimento da alma humana.

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