Antes mal acompanhado do que só?

Recentemente vi uma palestra do Prof Robert Waldinger, responsável por uma das mais importantes pesquisas sobre desenvolvimento humano já realizada. O estudo acompanha, desde a década de 30, cerca de 700 homens ao longo de suas vidas. Obviamente, muitos já faleceram e, atualmente, os dados são coletados através dos descendentes destes homens – mais de mil homens e mulheres. Para quem se interessar mais sobre o assunto, sugiro que busquem na internet, pois existem inúmeras reportagens sobre os resultados, até o momento, obtidos (Blog do professor http://robertwaldinger.com/ ).
Um dos principais pontos evidenciados na pesquisa, e levantado pelo professor Robert, é que os homens que obtiveram os maiores índices nos indicadores de qualidade de vida não eram os mais ricos ou os mais bem sucedidos, mas, sim, os que tinham bons vínculos interpessoais.
Apesar do incrível trabalho de pesquisa, não é mais nenhuma novidade especialistas afirmarem que somos mais saudáveis quando temos bons vínculos, porém há algo dentro desta afirmação que nos pede atenção e reflexão: ter como verdade fundamental que uma vida boa é uma vida subsidiada por boas relações, pode nos fazer crer que só seremos felizes quando obtivermos relações satisfatoriamente positivas. Neste sentido, ao nos depararmos com relações que não são positivas, automaticamente poderemos acreditar que não estamos nos empenhando adequadamente para que isso ocorra.
Muito provavelmente, pelo menos uma vez na vida, estaremos em alguma relação que não é equilibrada no sentido afetivo. Perceberemos que estamos dando mais do que deveria e que nada que possamos fazer mudará tal situação. O contrário também é verdadeiro, pois somos seres com peculiaridades, gostos e defeitos e não estamos isentos de nos envolvermos com indivíduos que não são “compatíveis” com nossa maneira de ser e agir. Robert Waldinger é cuidadoso ao escolher as palavras para explicar os seus resultados. Diz que “boas relações” é que são importantes para um bom desenvolvimento humano, e não que, apenas, “relações” são essenciais para termos uma vida boa. Também diz, de maneira clara, que a solidão está relacionada com o sentimento de se perceber como alguém que não tem companhia, mas que gostaria de ter.
Ora, é importante salientar que existem pessoas que lidam muito bem com a solidão. Na verdade, o termo “solidão” nem é utilizado nestes contextos, exatamente por tal palavra estar diretamente relacionada ao abandono e não ao livre posicionamento em optar pela ausência de companhia. Penso que, desta forma, a ressalva sobre as descobertas desta pesquisa, e de outras, e como tomamos isso como receitas para sermos felizes, seja fundamental. Vivemos em um mundo cada vez mais narcísico, cujas relações são pautadas quase que exclusivamente pelo desejo de ser notado, olhado e admirado. Portanto, nunca é exagero lembrar que, às vezes, é melhor estar só que mal acompanhado.
Tiago Pontes
Psicólogo
@tiagopontes_psicologo